Susana Bravo

Portugal

Susana Bravo

O trabalho que tenho desenvolvido desenrola-se em torno da “memória”, seja esta social, histórica, coletiva, familiar ou pessoal, onde me remeto para um “arquivo” particular ou institucional no qual me inspiro, estudo e pesquiso. Acredito na pintura como um meio criativo onde tudo pode acontecer ao mesmo tempo – um espaço intemporal. Todos os outros veículos criativos contêm uma linha temporal definida, com períodos determinados e distanciamentos inevitáveis, como, por exemplo, acontece na música. Na pintura, as minhas histórias as memórias as narrativas podem coexistir num mesmo tempo e lugar.
A minha narrativa pictórica conta uma ou várias histórias que se apoiam no cinema, na literatura, nos contos que vou conhecendo de boca-em-boca ou até numa simples conversa. A imagem final é construída por diferentes camadas sobrepostas. Tal como funciona a memória e não nos lembramos com a mesma intensidade de todos os momentos (ou por vezes não os recordamos de todo, por vezes vemo-los com clareza, por vezes estão incompletos e por vezes até nem sequer são os nossos momentos!) também nesta composição de imagens existem camadas que se vêem e outras que se escondem.
A minha obra visa saciar a minha paixão por compreender a vida e descobrir o que faz de mim uma criadora e a narrativa é parte de um processo criativo que explora o fundamental, o ingénuo e o tão humano prazer antigo de ouvir e contar histórias.
As pinturas que crio constroem-se de apontamentos autobiográficos entrelaçados com observações da vida de outras mulheres comuns, reais ou fictícias.
Ao tecer estas histórias, eu pretendo invocar o observador para dentro do meu trabalho e despertar a sua curiosidade natural, o seu desejo de conhecer as personagens e os eventos que as envolvem e a vontade de descobrir onde ocorrem esses momentos e quem/o quê os provoca.
No final, eu espero que olhem para os meus quadros com uma mente aberta, com vontade de os entender e com a consciência de que observar é também um ato criativo. Eu pretendo que o meu trabalho provoque alguma discussão acerca da conduta, das motivações, dos conflitos e daquilo que nos distingue como humanos – que compreenda, o observador, a “obsessão” pela memória. Eu anseio que o espectador crie ele próprio uma “Imagem da Vida” e uma paisagem memorial através das personagens e das histórias que compõem os meus quadros.
A meu ver, as minhas imagens são um instrumento, uma ferramenta que regista o que descubro sobre a vida enquanto com ela me cruzo. Creio que os meus quadros se desenvolvem por si, independentes de mim, mas que ao mesmo tempo crescem e se formam através de mim, fazendo parte da minha própria história.

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